Blindagem nível III; V50; calibres; tipos de bala… Tudo isso influi na maneira como é feita uma blindagem e podem trazer uma série de dúvidas para quem não está familiarizado com o assunto. Elaboramos um guia com as perguntas mais comuns a respeito de balística quando falamos em blindagem e veículos para deixar esse assunto mais claro. Confira:
– A norma balística NBR 15000 da ABNT preconiza que os testes balísticos para o nível IIIA devem ser feitos a distância de 4,5m do alvo. Se na prática algum tiro atingir um veículo blindado em distância menor do que a norma, o que pode acontecer? É prejudicial?
A distância recomendada pela norma leva em consideração o tempo que um projétil leva para estabilizar sua trajetória e eliminar a cavitação que existe logo ao sair do cano. Essa cavitação faz com que, em distâncias menores dos que as da norma, o projétil não atinja o alvo completamente alinhado em sua trajetória, diminuindo por isso seu poder de penetração. Portanto, disparos feitos em distâncias menores, são menos penetrantes e mais fáceis de serem detidos pela blindagem.
– Quais são os tipos de bala?
Existe um número enorme de tipos de projéteis. Nos calibres de armas de mão, simplificadamente, existem os projéteis não encamisados, semi encamisados e totalmente encamisados. O termo encamisado refere-se a uma cobertura de cobre bem fino – a camisa – que é utilizada para envolver o chumbo interno do projétil. Este encamisamento ajuda o projétil a ser mais penetrante, pois diminui o atrito dinâmico com o alvo.
– O modelo da bala pode mudar a performance de uma arma calibre 38 para uma 9mm?
Não é possível utilizar projéteis de um determinado calibre em armas de outro calibre, pois o local onde o projétil é inserido na arma – a câmara de combustão – possui o tamanho exato da cápsula que envolve o projétil.
– Quais fatores intervêm na performance de um tiro? Velocidade? Composição da bala? Formato?
Sim, todos os fatores acima são determinantes para a performance de um projétil. A equação básica que determina esses fatores é F=M*V2 – força é igual a massa multiplicado pelo quadrado da velocidade. Entretanto existe uma quantidade quase infinita de fatores que podem mudar totalmente essa equação: os materiais dos quais são feitos os alvos, o material do qual é feito o projétil, fatores ambientais, etc. Este fato é o principal elemento limitador para que se consiga desenvolver modelos computacionais de balística aplicada, ou seja, esta ciência continua até hoje basicamente empírica.
– Como age o vidro em caso de tiro?
Na verdade ele não age, ele simplesmente resiste. Os vidros mais modernos possuem dois estágios de resistência: no primeiro o projétil encontra resistência dura para que aconteça o fenômeno descrito na resposta número 1 acima – o desalinhamento do projétil – e no segundo o projétil é contido em um material dúctil – menos duro – que detém a totalidade da energia levando sua velocidade a zero.
– O que é V50?
V50 é uma técnica estatística para aferir a velocidade necessária para que um projétil consiga transfixar um determinado material. Chama-se V50 porque é necessário inicialmente determinar a velocidade onde 50% dos projéteis não conseguem transfixar o material alvo – e obviamente os outros 50% conseguem. Encontrada essa velocidade, compara-se com a velocidade superior da norma balística. Se a V50 estiver acima do limite superior da norma, pode-se afirmar que existe material suficiente para deter aquele projétil dentro da velocidade da norma. Isto é possível porque, estatisticamente, a chance de que um projétil com aquela velocidade vir a penetrar o material tende a zero na medida em que o desvio padrão da velocidade dos disparos for pequena. Se o desvio padrão – o quanto a velocidade dos testes variar em relação a media – for grande, o teste fica inconclusivo. Essa é a melhor maneira de estudar a capacidade de contenção balística de um determinado material.